Saúde emocional e felicidade no ambiente trabalho

Será que foi necessário o mundo entrar em uma crise sanitária sem precedentes e o tema ser objeto do Fórum Econômico Mundial – sua versão virtual, é claro – para que a saúde mental no trabalho passasse a ser debatida seriamente nas empresas? Parece que sim. O lado bom dessa resposta foi a criação de uma agenda global para acelerar as mudanças no modo como a saúde dos funcionários passou a ser tratada. 

É óbvio que estamos diante de um cenário atípico, no qual questões limitantes passam a ser instransponíveis, e as empresas devem interceder para amparar os colaboradores a enfrentar o grave momento. O tempo, que antes era dividido prioritariamente com a profissão e o lar, agora ele é todo trabalho, sem divisões. Com a fusão casa-trabalho-família, os limites entre o pessoal e o profissional praticamente desapareceram e, como resultado, surgiram o aumento do estresse, insônia, burnout, ansiedade, depressão etc.

Ao que tudo indica as organizações têm entendido o recado e estão fazendo a lição de casa bem direitinho. O que ajudou bastante nessa reflexão foi entender que o aumento do nível de estresse dos funcionários é acausa direta na baixa da produtividade, no incremento dos índices de abstinência e na alta rotatividade dos colaboradores. Segundo pesquisa mencionada no encontro anual em Davos e publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, estima-se que cerca de U$ 2,5 trilhões foram perdidos em produtividade com esse tema. 

É fato que nunca se falou tanto em saúde emocional no trabalho, mas não adianta a empresa oferecer aulas de ioga e atendimento psicológico se faz cobrança de horas exaustivas de trabalho e câmeras de vigilância constante para seus colaboradores. É essencial encontrar a equação entre o que cada empresa pode oferecer e o que cada funcionário precisa no momento.

Corporações que diagnosticaram esse problema com antecedência saíram na frente para a sua resolução. Além disso, estudos comprovam que para naquelas que melhoraram suas práticas em atenção à saúde mental dos funcionários os índices de performance melhoraram consideravelmente. Apesar de se tratar de um investimento a longo prazo, o movimento tem se mostrado consistente. 

O cerne da questão continua a ser a inteligência emocional, principal ponto examinado pelo prof. Daniel Goleman, ou seja, a forma como lidamos com os sentimentos e como nos relacionarmos com as pessoas. A inaptidão dessa habilidade está levando cada vez mais ao esgotamento profissional e às doenças relacionadas a essa condição. 

Oferecer serviços de desenvolvimento comportamental para aprender a lidar com suas emoções ou programas de bem-estar para os colaboradores são providências muito bem-vindas, mas é fundamental acompanharmos essas iniciativas. O primeiro passo é verificar se estão alicerçadas na cultura da empresa, se é natural poder falar sobre o assunto em seus corredores e, principalmente, se o líder está engajado integralmente nessa tarefa.

Quando afirmamos que é preciso estar de acordo com a cultura da empresa, enfatizamos quanto a comunicação interna deve ser realizada com transparência e incentivo.   Em alguns ambientes ainda é muito normal que a saúde mental seja tratada como tabu, objeto de desconforto e segregação. De nada adianta colocar à disposição uma equipe de profissionais da saúde competente para ajudar se os funcionários se sentem constrangidos ao procurarem apoio?  É indispensável abrir o canal de comunicação, naturalizar a situação e esclarecer as dúvidas mais frequentes, que às vezes impedem os mais leigos de enfrentarem a questão. 

Por outro lado, é vital orientar a liderança para saber diagnosticar o problema o quanto antes. Quanto mais cedo a disfunção for notada e tratada, mais fácil e rápido será o retorno dos funcionários para as atividades normais. Por isso, antes de iniciar qualquer programa interno em termos de saúde emocional dos funcionários, é preciso perguntar: a minha liderança está preparada para esse desafio? Os líderes são, em última análise, os mantenedores do trabalho em busca de equilíbrio e bem-estar. 

Por fim, uma indagação que vale ser ressaltada quando se fala em saúde emocional – o que faz você feliz no trabalho? O que o torna uma pessoa realizada e saudável? Se você observar, apesar do conteúdo desse artigo falar integralmente sobre saúde mental no trabalho os termos mais citados foram as “doenças” ocasionadas por ele. E, como preconiza a psicologia positiva, os seres humanos em sua grande maioria são saudáveis. Mas, para que nos mantenhamos nessa condição, é imprescindível se ater a algumas condições positivas de bem-estar e realização. Buscar pelas suas forças e talentos é uma delas. Não é à toa que essa é uma parte importantíssima da ciência reinventada pelo psicólogo americano Martin Seligman. De acordo com ele, descobrindo as suas forças e utilizando-as, é possível atingir e manter altos níveis de realização, bem-estar e felicidade. Portanto, estamos falando aqui de prevenção de doenças no trabalho. 

O olhar precisa ser sistêmico e a mudança deve partir da cultura organizacional da empresa. O que nos alegra é passar a enxergar mais luz no fim do túnel, mostrando novas formas de ver e transformar as carreiras e o trabalho nos novos tempos. 

Fonte: Economia e Negócios – Estadão

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