LIDERANÇA HUMANIZADA EM TEMPOS DE CRISE

Há quatro meses, se alguém perguntasse a empresários de diferentes áreas sobre a possibilidade de colocar todos os seus colaboradores para trabalharem em home office, certamente a resposta seria um sonoro: “não é possível!”. As justificativas seriam as mais variadas, desde a falta de estrutura de informática até a desconfiança de que eles não renderiam com a mesma eficácia e profissionalismo.

Contudo, no dia 11 de março de 2020, com a declaração da pandemia originada pela Covid-19, todas as concepções sobre organização do trabalho sofreram forte abalo. Foi preciso criar uma estrutura em tempo recorde, manter os serviços em funcionamento, treinar as equipes, criar novas regras, organizar a estrutura técnica e mais uma infinidade de detalhes, à qual todos tiveram de se adaptar.

Com esse novo panorama, as empresas rapidamente se estruturaram e, na medida do possível, tentam tirar bons frutos do que, a princípio, parecia um irremediável desastre. Com o trabalho remoto, muitas instituições anunciam a entrega de prédios inteiros, que antes serviam para alocar funcionários, mas que, por ora, se tornaram desnecessários. Os postos de atividades que, infelizmente, foram cortados não serão todos restituídos, haja vista que, de uma forma ou de outra, as demandas foram absorvidas. Em termos positivos, ambas as práticas geraram cortes de despesas, palavras mágicas aos ouvidos dos empresários, ainda mais em momentos desafiadores como os que vivemos.

Mas como ficarão as relações trabalhistas daqui em diante? Será que a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) passará por alterações para acompanhar os novos formatos de contratação? E a função social do trabalho? Será extinta de vez a tão fortalecedora interação entre os empregados e a empresa? Claro que ainda é muito cedo para conclusões, entretanto é fato que existe uma força-tarefa de profissionais da área analisando o que será passageiro e o que se tornará efetivamente uma tendência no mercado.

Perante tantas incertezas, a única unanimidade está na importância do líder neste cenário, pois o papel dele foi enormemente ampliado. Hoje, além das habilidades exigidas e conhecidas para desempenhar bem essa incumbência, o profissional que exerce a liderança deve apresentar alguns comportamentos insólitos, extraordinários e inéditos. Vejam algumas das posturas necessárias:

  1. Agir com inteligência emocional

Nunca como agora, a inteligência emocional se mostrou tão necessária, e o controle dos sentimentos, especialmente os negativos, farão a diferença no mercado de trabalho atual. Estar à frente de uma equipe, na qual ocorreram desligamentos de funcionários, demanda um notável equilíbrio estrutural. Somos todos seres relacionais e nos sentimos afetados quando recebemos a notícia de que um colega perdeu o emprego e precisa sustentar a família. Sem contar nas baixas pessoais que cada um pode ter sofrido ou estar sofrendo. Diante de uma empreitada tão avassaladora como cobrar por resultados da mesma maneira que antes? É óbvio que deverá haver uma adaptação condizente com as novas perspectivas e permeada de muita escuta e empatia.

  • Resgatar a esperança da equipe por dias melhores

Com a parte emocional, muitas vezes, em pedaços, não há que se esperar um posicionamento proativo, criativo ou inovador por parte da equipe. No entanto, essas características serão extremamente úteis aos profissionais que estarão no comando. O que todo colaborador precisa nas atuais circunstâncias é ter alguém a seguir, que informe quais as melhores soluções e respeite a história de cada indivíduo.

  • Guiar o grupo sem o direcionamento exato

Uma máxima da administração sempre foi: crie o seu objetivo, faça o planejamento e execute. Ter o máximo de clareza possível sobre aonde se quer chegar sempre foi uma regra valiosa do jogo. Porém, esse direcionamento não se encontra mais tão definido, especialmente para alguns setores, e a dúvida impera. E não é possível aguardar todas as variáveis se pronunciarem para continuar a conduzir os negócios. A questão é que prosseguiremos mesmo com poucas informações. Esse quadro de incertezas e mudanças bruscas que vislumbramos exige que o líder tenha maior habilidade para estipular metas menores e orientar o grupo a alcança-las.

  • Aumentar a comunicação com a equipe, clientes e colaboradores

Ter boa capacidade de comunicação sempre foi a meta dos bons líderes. Agregar, motivar, inspirar e comandar se torna infinitamente mais fácil quando utilizamos a comunicação de modo adequado. No entanto, nas épocas de instabilidade, lutamos não apenas com a desinformação, mas também enfrentamos as informações equivocadas, ou seja, as fake news.  E se existe algo que pode desestabilizar uma equipe (e até uma empresa inteira) são os rumores, isto é, aqueles comentários sobre cortes, fechamento de unidade, saúde financeira da empresa etc. Portanto, trazer transparência e comunicar as estratégias aos seus colaboradores, funcionários e clientes é fundamental.

Teremos profundos aprendizados na atual crise, porém, como nas demais, surgirão negócios fortalecidos, soluções originais e líderes extraordinários. Pessoas que serão lembradas pela capacidade apaziguadora entre discordantes, pelo grau de inspiração que gera nos demais; pelas atitudes na resolução dos desafios; e, principalmente, pela esperança que representa a sua correta maneira de agir.

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