Geração X, estamos ressentidos com a Geração Millennials?

“Falta accontability para profissionais mais jovens.” Essa frase dita por um líder experiente chamou minha atenção durante um treinamento do qual participei na semana passada. Apenas para nivelar a quem não esteja familiarizado com o termo, “accontability” pode ser entendido como : pensar e agir como dono, com uma prestação de contas a todos, para entregar resultados excepcionais. Concordo em partes com ele, pois acredito que a análise multifatorial sempre pode enriquecer o nosso entendimento. Por isso, vale a leitura de algumas linhas desse texto. 

            Ouve-se muito falar que o conflito geracional dentro das organizações tem aumentado nos últimos tempos.  Será que estamos diante de uma geração diferenciada, a Y (os millennials, indivíduos nascidos entre 1980 e 1996), ou será que nós, da geração x, não façamos mais parte da maioria e, portanto, nos vejamos ligeiramente ameaçados por essa mudança radical aos quatros ventos? 

             Não são poucas as reclamações tornando-se um grande problema de falta de motivação no ambiente de trabalho e os altos índices de rotatividade nas corporações, o que, por sua vez, acarreta a baixa nos números de produtividade. 

QUAIS AS CARACTERÍSTICAS SUPOSTAMENTE INDESEJADAS DOS MILLENNIALS 

  1. Mais aparência e menos esforço

É comum os líderes de gerações anteriores reclamarem que os millennials já ingressam na organização perguntando quando serão promovidos e que não possuem a menor paciência ou perseverança para construir o seu caminho, passo a passo, dentro da empresa. 

Especialmente se comparadas à jornada percorrida pelos antigos, a postura informal e espontânea praticada pelos mais jovens podem ser vistas como inapropriadas, recebendo um olhar acusatório por parte dos old School, isto é, pela velha guarda do pensamento, quase como um “cresça e apareça”. 

Para alguns, essa atitude é resultado de uma criação que privou os jovens da frustração e do esforço, parabenizando de forma excessiva e supervalorizando um ambiente que deveria ser naturalizado. A conta desse comportamento estaria sendo entregue nas relações conflituosas de trabalho. 

  • Insegurança da geração self

Em artigo publicado pela Time Magazine, fala-se que a geração millennials apresenta até três vezes mais transtorno de personalidade narcisista que as demais. Em suma, significa dizer que essa geração sofre com o espelho, e o espelho atual é chamado de self, que, além de refletir a própria imagem, libera endorfina por meio de suas poderosas curtidas e comentários (quase) sempre motivadores. 

No ambiente corporativo, essa busca pela autoafirmação, em alternância com excesso de exposição, mexe com as bases de quem às vezes está em cargos de liderança com pouca experiência ou ainda bem jovem. 

  • Demora em assumir as responsabilidades 

Outro fator que engrossa o coro sobre o que origina conflito entre as gerações é a questão da saída tardia dos millennials da casa paterna. O que poderia ser uma opção consciente por questões de planejamento financeiro ou afetivo aproxima-se cada vez mais de uma crítica ao que seria uma falta de responsabilidade ou ao medo de assumir compromissos. 

E O QUE MAIS MUDOU.....

Apesar de entender os argumentos aqui citados, particularmente consigo analisar esse conflito por outro prisma. E, no fundo, acredito que não houve grandes mudanças, pois o novo sempre trouxe algo diferente, uma ordem diferenciada se impõe, que será questionada pelos mais velhos. Sempre foi assim.

À medida que deixamos de ser a voz majoritária em um coral, é provável que as outras vozes passem a nos incomodar um pouco mais e, de certa forma, é assim que vejo o que acontece com as gerações mais antigas (numa das quais me incluo) que estão em conflito no cenário corporativo. 

Mas, com um pouco de boa vontade de ambas as partes, diga-se de passagem, vislumbro uma grande oportunidade de aprendizado nesse convívio. Oportunidades que, se bem trabalhadas, trarão crescimento em habilidades comportamentais que dificilmente serão atingidas no banco das universidades. 

O QUE APRENDER COM OS MILLENNIALS

  1. Geração do propósito 

Uma das grandes dificuldades do RH atualmente é como manter os jovens talentos em seus quadros – haja vista que o financeiro não é mais a única forma de convencê-los. Pensando que agora estão diante de uma juventude muito mais engajada com causas e direitos, as organizações ganharam verdadeiros aliados, representantes das marcas. Pergunte a algum jovem que estiver, por convicção (ou propósito), trabalhando na sua empresa, e você poderá se surpreender com a entrega positiva dada por eles. 

Esse aspecto de vestir a camisa ou acreditar na causa é nato dessa geração, não é ensinado. E o melhor: isso será propagado com a velocidade da internet, ao toque de um clique. 

  • Curiosidade e inovação  

Outra característica nata (e óbvia) é que os millennials são nascidos na inovação, pensam em formato de programação e, nisso, levam uma vantagem incrível sobre as gerações anteriores. Mas ainda são pouco utilizados para dar “mentorias” nesse sentido. Aproveitar essa habilidade técnica para ensinar e construir uma relação com os mais velhos pode ser mais que abrir portas, um caminho de comunicação fluida. 

  • Autonomia e flexibilidade na gestão do trabalho

Definitivamente, estruturas rígidas, com hierarquia muito bem definida, geralmente não atraem os profissionais dessa geração. Eles buscam liberdade e independência para realizar os seus trabalhos, e isso pode significar trabalho sem exclusividade, part job (trabalho parcial), construir a sua própria plataforma de trabalho, prestar serviço etc...

  • Comunicação

A informação chega em alta velocidade, para o interlocutor certo, no momento adequado, porém não acontece mais no formato de antigamente, e as empresas que se mantiverem apegadas às formalidades do passado podem perder grandes talentos.  

A geração millennials tem em suas mãos a facilidade de dialogar mediante diversos formatos e se valem de todos eles em suas conversas – de textos a emojis – misturando um pouco de tudo, pois o que vale é se comunicar. 

  • Bem-estar entre vida pessoal e profissional

Nesse quesito, já vi muita gente de gerações anteriores tirarem o chapéu e não sem razão; afinal, essa geração percebeu o que a geração X (nascidos entre meados da década de 1960 e o início dos anos 1980) e os baby boomers (nascidos entre 1945 e 1964) só notaram tempos depois: que ganhar muito dinheiro não valeria de nada se não houvesse um equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional. 

Então, eles já partem do pressuposto de que precisam desse equilíbrio em suas vidas e elencam tal estratégia como meta. Louvável!

Conclusão 

Os conflitos sempre existiram e, na verdade, não vejo isso como uma falta de accontability por parte dos mais jovens. Estamos vivenciando outro momento e, como tudo nessa vida, o novo traz prós e contras, sendo imprescindível que nos adaptemos a essa nova realidade, transformando os conflitos em uma verdadeira escola de desenvolvimento para todas as idades.  

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