Estamos emocionamente preparadas para envelhecer no trabalho?

Se tudo der certo, todos nós vamos envelhecer, onde a carreira entra nisso?

 

“Não toque nas minhas rugas, levei muito tempo para consegui-las”. A frase é da  premiada atriz italiana Anna Magnani, que carregada de autoestima, enfrentou e desmontou uma fábrica como Hollywood, nos idos dos anos 50. Qual de nós mulheres teríamos a coragem de nos expressar dessa forma e falar abertamente que estamos envelhecendo no ambiente de trabalho? Será que estamos realmente convencidas que mulheres maduras podem estar no seu melhor momento profissional, independente do mercado absorvê-las ou não como força de trabalho? Apesar de termos caminhamos bastante nesse sentido, e poucas mulheres escondem a idade, a massacrante necessidade de se manter jovem no mercado de trabalho ainda permanece.

 

O “fenômeno” acontece com os homens também, infelizmente, porém hoje falo sobre as mulheres, torcendo para que os homens sigam a leitura do texto porque (presumo) que são parte interessada na construção de uma sociedade psiquicamente saudável.

 

O natural seria que a relação de trabalho fosse pautada mais pelo conteúdo do que pela forma, certo? Então, por que é tão difícil a recolocação de uma mulher  com 40 + no ambiente empresarial?  Machismo estrutural? Sim, com certeza. Não gosto muito dessas palavras massificadas, mas o que importa é que este é o sintoma da doença chamada preconceito. A pergunta que não quer calar refere-se ao quanto esse preconceito abala emocionalmente cada uma de nós, e leva aos poucos, a uma descrença no nosso potencial. E o mais maluco dessa história, é que isso acontece justamente quando temos competência e experiência para dar e vender.

 

É bem verdade que algumas profissões são como vinho, quanto mais sênior, mais “acreditado” você é no mercado. Executivos, advogados, médicos, engenheiros, diretores são bons exemplos de profissionais onde os cabelos brancos fortalecem a relação. E quanto as executivas, advogadas, médicas, engenheiras e diretoras, também são mais apreciadas pela experiência que trazem juntamente com suas rugas? Eu diria que depende. Quando a profissional parte para carreira independente, tende a enfrentar menos problemas com relação a idade, mas quando se trata da concorrência por cargos no mercado de trabalho a idade pesa de forma avassaladora.

 

Desde que comecei a trabalhar com desenvolvimento humano não compartilho mais com frequência dos almoços concorridos da região da Av. Faria Lima, o que confesso, tenho alguma saudade. Para apaziguar a nostalgia, marco com alguns colegas, ou com o meu marido, restaurantes badalados da região de vez quando. Em um desses episódios levei algum tempo observando as pessoas ao meu redor. Na sua grande maioria homens, na faixa de 30 a 40 anos, e alguns poucos aparentando estar por volta dos 50. E quanto as mulheres? Contei algumas na primeira faixa (30/40) e apenas 2 mulheres mais maduras, aparentando estar com seus 45 anos ou mais. Você pode me falar que eu peguei uma amostra muito pequena, apenas um restaurante, e eu terei que concordar, mas nós sabemos que se pesquisasse a fundo, a resposta não seria muito diferente.

 

Mulheres são a minoria em cargos de liderança, e são a minoria em cargos operacionais também. Poderia elencar vários fatores para endossar a minha frase, mas a ideia é entender quanto esse cenário nos fragiliza, e porque as vezes cedemos ao tentar desenfreadamente agir contra o tempo. Acredito que a dificuldade neste sentido pode estar baseada no quanto estamos preparadas para enfrentar os nossos próprios fantasmas sobre a velhice. Definitivamente não é fácil nos posicionarmos e sermos vistas como uma profissional ageless (sem idade). Existe muito ressentimento em sermos altamente capacitadas para uma vaga, porém barradas pela idade. Seria mais acertado travar as batalhas para ocupar o lugar desejado, como acontece em outras culturas? Ou seria mais oportuno constituir a resiliência necessária para montar uma nova estratégia e seguir como profissionais em outros desafios?

 

Definitivamente eu não tenho essa resposta, mas confesso que no almoço na companhia dos Faria Limersfiquei intimamente feliz por ter optado, há algum tempo atrás,  seguir a carreira como profissional liberal, porque sei que no meu caso a mudança aconteceria mais cedo ou mais tarde, essencialmente por uma questão de perfil. Ainda sou daquelas que sonha em fazer outra faculdade, tocar um novo instrumento, aprender línguas, e sigo sem pensar que a idade pode ser um limitador para esses projetos. A pesquisadora Mirian Goldenberg, que dedica-se ao estudo envelhecimento, afirma que ter projetos e se manter ativa é imprescindível para um envelhecimento saudável – concordo plenamente, você não?

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“E SE EU NÃO QUISER UM CARGO DE LIDERANÇA, COMO EU SEREI AVALIADO?”

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PORQUE OS ADVOGADOS SÃO TÃO INFELIZES?